Movimento nesse sentido surgiu na década de 70 no Canadá.
"A violência é tão complexa que requer múltiplos saberes para se chegar à solução. Os fatores que potencializam a cultura da violência estão concentrados na família diferente, e não desestruturada, na sociedade punitiva e na educação que precisa ser revista. A interrupção desse problema social e o desenvolvimento da cultura da paz, para a educação para a paz, deve ser iniciado na escola, que de alguma forma está ligada a todas as pessoas da sociedade", afirma a psicóloga Monica Mumme, também coordenadora do Núcleo de Educação para Paz do Centro de Criação da Imagem Popular (Cecip), uma Organização Não Governamental (ONG) do Rio de Janeiro, existente há 26 anos.
Ela esteve em Sorocaba na semana passada a pedido do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Sorocaba (CMDCA), que solicitou um plano de ação de combate à violência e desenvolvimento da cultura da paz para ser desenvolvido em Sorocaba. O projeto será apresentado nos próximos meses, quando os governos estadual e municipal avaliarão o método de aplicação.
Segundo Monica, "a violência é um pedido desesperado de ajuda", tanto do agressor quanto da vítima e sinaliza a necessidade de rever a situação e restaurar aqueles sentimentos, aquela relação. "A educação para a paz tem como foco a consciência do próprio sentimento, o que foi sentido durante uma discussão, por exemplo. E quais as necessidades das partes diante da questão. É preciso ser educado para falar sobre os sentimentos", afirma.
De acordo com a especialista, é falando dos próprios sentimentos que a pessoa tem consciência de si mesma e a partir daí terá condições de lidar com conflitos que geram a raiva, por exemplo. Para ela, nenhum agressor nasceu "xingando" ou "batendo", essa reação extrema foi cultivada por um período em função de sentimentos negativos e não cuidados. "É preciso ajudar as pessoas a olharem para dentro de si. Numa briga, os sentimentos se atrapalham, é necessário organizá-los. A partir disso as pessoas saberão escolher pela paz", observa.
Numa visão mais profunda da Psicologia, Monica explica que não há posições de vítima e agressor/ofensor. "O que existe é um desencontro de histórias. Cada um tem a sua. Não se trata de justificativas e não tem a ver com passar a mão na cabeça do ofensor, mas sim responsabilizá-lo. E ouvir o outro, ouvir quem pensa diferente é difícil, mas é necessário", defende ela, que acrescenta; "É assim que se responsabiliza alguém pelo que ele fez, fazendo-o ouvir o que causou e assumir o que fez. É assim que há mudança interna".
Segundo a psicóloga, durante uma briga, quase nunca as partes falam tudo que pensam, por isso a violência permanece dentro da pessoa, com pensamentos ruins. Na educação para a paz uma briga deve terminar exatamente onde começou. "É preciso falar dos próprios sentimentos, do que você necessita e o que tem a oferecer diante daquela situação. Não dá para falarmos do outro, não sabemos dele. Só sabemos de nós mesmos. Não controlamos ninguém, só a nós mesmos", ensina.
Um dos benefícios de falar dos sentimentos é recolocar as partes em seus lugares, como da vítima, que quase sempre não restaura seus sentimentos. "No caminho para a educação para a paz está a Justiça Restaurativa. Neste processo, vítima e ofensor falam sobre seus sentimentos e têm a chance de acabar com o conflito. Isso possibilita a conscientização e a recuperação de valores. Num segundo momento, ambos terão consciência de que têm a opção pela paz", fala.
A especialista acredita que a escola da atualidade precisa ser revista e focar no desenvolvimento de valores. "A escola é sim responsável pela formação de valores. Ela também produz pessoas violentas e sim, tem que se responsabilizar por isso. O desenvolvimento da cultura da paz é lento, primeiro é preciso interromper a violência e criar uma nova forma de ver o mundo. Isso é possível e perceptível a longo prazo", garante.
Para Monica, resolvendo pequenos conflitos internos e discussões entre crianças e adolescentes é possível, a médio ou longo prazo, evitar conflitos extremos, que envolvem violência física. "Ainda somos uma semente dentro da sociedade punitiva. Mas os economistas já descobriram que gastar mais com educação restaurativa é sinônimo de economia nas medidas punitivas, como presídios", avisa.
Em Sorocaba a presidente do CMDCA, Úrsula Jacinto Medeiros, afirmou que a necessidade de combater a violência está visível em vários segmentos da sociedade sorocabana. "Nós do Conselho já percebemos, diante de nossas discussões, a importância de discutir soluções para a violência local, que como em outras cidades, está presente nas ruas, nas escolas, nas famílias. E a proposta do Cecip de dialogar para solucionar a questão vem ao encontro das nossas expectativas", defende Úrsula. A intenção do CMDCA é desenvolver um curso para agentes multiplicadores da Educação para Paz no município. O evento ainda está sendo planejado.
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