
O apoio do General Colin Powell, que serviu a Bush pai e a Bush filho, tem vários significados relevantes. O primeiro deles: assegurar aos militares de um modo geral, na ativa ou aposentados, e, especialmente aos da Flórida, Ohio e Pensilvânia, Estados ainda em disputa, que Barack Obama é um candidato confiável e consistente. Em suas palavras, o novo líder que pode eletrizar o mundo.
Powell repercute também entre os aposentados civis da Flórida - quase todos vindos da cidade de Nova York – afiançando que o senador democrata não é um esquerdista inconseqüente, vinculado a terroristas, como a campanha de John McCain quer caracterizá-lo. A Flórida elege 37 delegados. Seus moradores aposentados viveram a parte do leão de suas vidas no período da Guerra Fria e são todos anticomunistas.
Além disso, desconstrói toda a retórica da campanha republicana sobre o candidato democrata, ao dizer que “Barack Obama será um presidente excepcional”, afastando – de vez – o argumento da inexperiência. Powell criticou duramente os que insistem em estigmatizar Barack Obama como muçulmano, anti-americano.
Mensagem igualmente para “Fox News”, que o desenhou como “um freak” (um maluco). Censurou, de modo veemente, a guinada à extrema direita do Partido Republicano, que, por isso, deixa, segundo ele, de incluir em suas propostas projetos para cidadãos centristas e moderados. O alvo foi o que representa a delirante Sarah Palin – evengélica que acredita que o aquecimento global é expressão da vontade de Deus. Powell pôs ordem na casa e elevou o nível da campanha. Palin acirra, em seus comícios, a divisão entre os americanos, declarando haver regiões a favor e contra “a América”.
Estas divisões são o maior problema dos EUA nas últimas décadas: muitos países em um – com repercussões graves para o mundo todo. Nenhum projeto de governo funciona ante tal desacordo, babélico.
Recessão intelectual
A proposta de Barack Obama é, justamente, a de atenuar tais cisões e restabelecer os laços sociais, para poder efetivamente governar, sob o prisma de uma justiça restaurativa. Ele entende que não vai enfrentar com sucesso os desafios da crise econômica, da reanimação dos parceiros internacionais, do aquecimento global, sem uma sociedade menos dividida e anômica.
A recessão intelectual dos americanos é uma de suas preocupações. Powell reforçou essa linha de pensamento e atuação. O ex-presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, New Gingrich afirmou que o endosso de Powell representa a última facada num moribundo McCain.
Na verdade, Powell decepcionou-se com a selvageria republicana, que transformou McCain de um liberal de direita, “clássico”, até antiBush, ao McPalin dos ataques pessoais baixos, sob a direção de Karl Rove – o homem de George Walker Bush – o Napoleão III, o idiota. Até o momento, o General foi o único republicano que seguiu o slogan “Country first” (O país em primeiro lugar).
Quanto à raça, observo que, se John Kennedy perdeu votos dos evangélicos em 1960, aumentou em grande número o voto dos católicos, que afluíram às urnas em quantidade inédita até então. O catolicismo do governador do Estado de Nova York, Alfred Smith (1873-1944), que perdeu as eleições de 1928, não impediu Kennedy de eleger-se em 1960: o preconceito diminuira muito. Em 2004, 60% dos eleitores negros foram às urnas e 88% votaram em John Kerry. Estima-se que, esse ano, 90% vão comparecer e votar. O racismo envergonhado dos brancos não terá influência decisiva.
20/10 - 12:18 - Régis Bonvicino, especial para o Último Segundo
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2008/10/20/o_significado_do_apoio_de_collin_powell_2056719.html
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