Uma média de 120 mulheres são agredidas por dia em Mato Grosso. O ciclo da violência doméstica é rotineiro nos lares, os agressores, em tese, acabam sendo aqueles que deveriam proteger. Para trabalhar a conscientização dos agressores, a Vara Especializada da Violência Doméstica do Fórum de Várzea Grande desenvolve o projeto “Bem de Família”. Desde maio, 94 agressores estão passando por diversos cursos, que visam inclusive a mudança de comportamento.
Na última semana, o Judiciário entregou os certificados aos participantes da primeira turma do projeto. Durante seis meses, sete acusados de violência doméstica participaram de reuniões, acompanhados por psicólogos e assistentes sociais. Os acusados de agressão têm que participar do projeto e em caso de falta precisam apresentar atestado para justificar a ausência e não voltar para a prisão.
A alternativa foi idealizada pelo juiz titular da Vara de Violência Doméstica de Várzea Grande, Eduardo Calmon de Almeida Cezar. Para promover a Justiça Restaurativa, propõe que os agressores, além de responder o processo na Justiça, também participem de encontros coletivos que são realizados uma vez por mês e tem também como objetivo promover a paz no lar.
O magistrado afirma que o trabalho dá condições ao homem a voltar ao lar pacificado. Segundo ele, o trabalho traz uma nova consciência, uma nova cultura da paz para o lar, faz com que o agressor possa reconhecer os atos que praticou com a interação multidisciplinar da equipe de assistentes sociais e psicólogos.
A defensora Rosana Leite, da Coordenadoria de Defesa da Mulher da Defensoria Pública defende que se fortaleçam as políticas públicas capazes de cortar o ciclo da violência dentro da família. De acordo com a defensora pública, cerca de 70% das pessoas que cometem delitos foram vítimas da violência doméstica na infância. “A criança que vive nesse meio reproduz a violência no futuro”, pontuou.
Em meio a isso, muitas mulheres sequer denunciam os casos às autoridades competentes, segundo a defensora. Seja por medo, vergonha ou dependência financeira, muitos casos sequer são registrados. “Os números podem ser maiores de mulheres que continuaram no ciclo de violência. Muitas não lavram boletins até pela vergonha. No que diz respeito aos delitos sexuais, apenas 10% chegam ao conhecimento das autoridades”, diz Rosana Leite.
É preciso denunciar – Rosana Leite diz que o agressor não tem face, você não consegue olhar para o homem e dizer se ele é ou não agressor. Ele pode ser um homem formado, um doutor, de qualquer classe social. Ela diz ainda que o agressor em regra é réu primário, mas ele é um agressor, a violência é um crime grave, a sociedade precisa entender isso. Um fato constatado pela defensora nas visitas nos presídios é que a maioria das pessoas presas ou sofreu violência doméstica ou presenciou. Muitas pessoas reconhecidas como criminosas sofreram ou vivenciaram. “Por isso há necessidade de se tratar a violência, há necessidade de mudar essa realidade”, diz.
ALINE ALMEIDA
Da Reportagem
Diário de Cuiabá.
31.10.2017.
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