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29 de set. de 2017

Violência nas escolas: Estado não reconhece dados, mas reforçará mediação

Após divulgação de dados da Apeoesp, Seduc diz que colocará um professor mediador para reforço em escolas de áreas vulneráveis


A Secretaria de Educação do Estado não reconhece os dados do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), divulgados na quarta-feira (27), mostrando que 51% dos professores e 39% dos estudantes afirmaram que já sofreram pessoalmente algum tipo de violência nas escolas. Porém, uma das apostas da pasta para enfrentar a questão da violência nas escolas é a mediação baseada na cultura de paz. 
Nesta semana, foi publicada uma resolução que reestrutura o programa de mediação – a justiça restaurativa. Agora, em todas as 5 mil escolas, os vice-diretores serão capacitados para tal. 
Em escolas de áreas vulneráveis e que tenham histórico de casos de violência, a Secretaria colocará um professor mediador para reforço. Isso acontecerá em 1.795 unidades do Estado, 159 na Baixada Santista (das 160 totais).
Atualmente, a rede conta com 1,2 mil professores-mediadores. Assim, o programa passará de 3,5 mil (2,3 mil vice-diretores e 1,2 mil professores) para 6.795 educadores (5 mil vice-diretores e 1.795 professores).
A capacitação ocorrerá via curso específico elaborado pela Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores (EFAP), da Secretaria. O objetivo é conhecer a fundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), além de aprender técnicas de justiça restaurativa.
Cultura da paz
Em entrevista a A Tribuna, o secretário de gabinete da Secretaria de Educação, Wilson Levi, afirmou que é importante trabalhar a cultura da paz. ''Trabalhamos desde 2014 com o programa de cultura de paz e mediação e tivemos uma diminuição de 70% no número de casos dentro das escolas nesse período. Acreditamos que, no ambiente escolar, o melhor caminho para resolver a questão da violência não é só a repressão. A Secretaria entende que a violência é um problema de toda a sociedade e a escola não fica apartada. Na Educação buscamos fazer nossa parte e também trabalhar na prevenção''.
Sobre a reformulação que reduziu nas escolas o número de professores-mediadores, no começo do ano, ele afirmou que houve uma questão transitória e o modelo foi reestruturado para garantir professores nas classes. ''Agora, estamos aperfeiçoando essa política''.


O levantamento realizado pelo Instituto Locomotiva, a pedido da Apeoesp, ocorreu entre os dias 1º e 11 de setembro, a partir de entrevistas com a população que mora no entorno de escolas estaduais de São Paulo, pais e mães de alunos, além de estudantes e docentes da rede estadual. Foram entrevistadas 2.553 pessoas de diversas cidades em todas as regiões do Estado , incluindo Santos.
Se comparado com o último levantamento, a situação piorou. Em 2013/2014, 28% dos alunos e 51% dos professores afirmaram ter sido vítimas. “A sociedade está violenta e as escolas, vulneráveis. E para o professor, a situação está cada vez mais constrangedora”, afirma a coordenadora da Apeoesp na Baixada Santista, Tânia Maria Grizzi de Moraes.
E o cenário de insegurança só piora, na visão dos entrevistados. Para 87% da população, a violência nas escolas públicas estaduais aumentou nos últimos anos. A mesma sensação que têm 79% dos pais, 73% dos estudantes e 84% dos professores.
Maria (nome ficitício) sabe o que é essa crescente. A escalada de violência na sua rotina de docência, simplesmente a expulsou da sala de aula. “Eu travo só de pensar em entrar em uma classe”, desabafa ela, que lecionava em São Vicente.
Maria foi diagnosticada com transtorno de humor e está em tratamento. Dessa forma, não dá mais aulas e foi readaptada. A readaptação acontece quando, por razões de saúde, o professor fica impossibilitado de exercer a função para a qual foi selecionado e passa a exercer uma outra, conforme as indicações médicas.
Ela relata inúmeras situações violentas, tanto verbais quanto físicas. Conta que já suportou xingamentos e teve que pedir acompanhamento para sair da escola, porque havia sido “jurada” por um aluno. 
“Uma vez, estava escrevendo na lousa e um aluno me feriu com um lápis que fincou na minha nádega. Na última vez, um aluno jogou o cesto de lixo no meu rosto. Falta ação contra isso. Falta apreço pela escola e pelo professor. Eu tive que me afastar, não consegui encerrar a minha carreira. Conheço professor que infartou em sala de aula por conta disso”.
E a sensação é que todo mundo conhece alguém que teve problemas com violência em escolas: 67% dos pais, 80% dos estudantes e 85% dos docentes afirmam que souberam de casos de violência em suas escolas estaduais no último ano.
Causas
Segundo os entrevistados, as principais causas que levam a essa realidade são as drogas, conflitos entre estudantes e a falta de policiamento. Já um outro ponto foi citado apenas pelos professores: a da educação em casa. 
Para a filha de Vanusa Soares Neto, que mora em Santos, o envolvimento em uma briga dentro da sala de aula colocou um ponto final na sua vida escolar. “Ela era uma menina que adorava estudar, mas um dia se envolveu numa briga feia na escola, ficou com o rosto marcado. A escola não soube lidar com o que aconteceu. Ela até teve acompanhamento psicológico, mas depois não quis mais voltar e abandonou os estudos”, lamenta.
Segurança Pública
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública informou que não comenta pesquisas das quais desconhece a metodologia. 

''A Polícia Militar mantém, em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, o programa Ronda Escolar, criado em 2005, que faz o policiamento ostensivo e preventivo em aproximadamente 2.000 unidades escolares e imediações. Paralelamente à Ronda Escolar, a PM faz o policiamento nos bairros, distribuindo seu efetivo de acordo com os registros de ocorrência, as estatísticas criminais, informações do sistema Disque Denúncia e da própria comunidade''.

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Livros & Informes

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