21 de set. de 2018

SEGURANÇA PÚBLICA SE DISCUTE, SIM

Convidamos a cientista política Ilona Szabó a falar sobre a importância de se discutir racionalmente a segurança pública, tema de seu novo livro; leia trecho

O dito popular sustenta que futebol, política e religião não se discutem. A julgar pela exaltação de ânimos que debates relacionados à segurança pública têm provocado, corremos o risco de que ela entre na lista de temas controversos sobre os quais achamos inviável dialogar. Antes que isso aconteça, vale lembrar: somos capazes de falar sobre prisões, polícia, armas e drogas de maneira racional. Mais que possível, isso é necessário. Mesmo porque escolhas sobre como enfrentar a violência que podem parecer individuais têm alto impacto coletivo.

O primeiro passo para uma reflexão mais razoável sobre segurança é fugir de soluções simplistas. A violência nasce de um acúmulo de fatores. Quem diz ter uma resposta mágica para acabar com ela será incapaz de entregar o que prometeu. Buscar dados confiáveis e avaliações sobre experiências já implementadas torna possível sair da superficialidade e derrubar clichês. Alguns exemplos de lugares-comuns deixam isso mais evidente. Mais prisões, por si só, não são sinônimo de mais vidas salvas. Baseados nessa falsa afirmação, chegamos ao terceiro lugar no mundo em população carcerária; já são 726 mil presos. Essa marca não nos impediu de registrar o maior número absoluto de assassinatos no planeta ano após ano. Em paralelo, vimos as prisões servirem de origem a grupos criminosos organizados e fortalecê-los. Os líderes desses grupos, com frequência, convivem com pessoas que cometeram crimes sem violência ou mesmo que ainda não foram julgadas, já que 40% dos presos no Brasil são provisórios. Por outro lado, apenas 11% estão ali por terem cometido homicídios.

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